quarta-feira, 7 de março de 2012

A MÍDIA, OS TORTURADORES E O PÓ
Há alguns meses, foi votada no Congresso Nacional, a “Comissão da verdade”, que tem
o objetivo de trazer à tona as herméticas e obscuras páginas da ditadura militar no Brasil. Se por
um lado essa Comissão foi um avanço; por outro, recebeu críticas de movimentos contra a tortura,
já que os torturadores desse vergonhoso regime não serão punidos, em nosso país.
Essas situações, que alimentam uma certa cultura da impunidade, acabam gerando novas formas de
“pau- de-arara”, ” cadeira do dragão” , espancamento...Hoje, o choque elétrico e o cassetete são as
palavras usadas na mídia de forma maledicente e truculenta, com o intuito de fazer alguma pessoa
tornar-se pó. A palavra virou arma letal. Justamente ela que existe para estabelecer relações humanas
e possibilitar a comunicação.
Uma fala egocêntrica, em que só uma pessoa se expressa e o interlocutor está impedido de dar
uma resposta instantânea, não é comunicação, é autoritarismo( como nos malditos anos de chumbo).
Segundo “Aurélio”, comunicação é a capacidade de trocar ou discutir idéias, de dialogar, com
vistas ao entendimento entre pessoas. Eu acrescento que comunicar exige argumentação, vocábulo que
significa iluminar, clarear. Nesse sentido, muitas declarações feitas na mídia não são comunicação
pois não iluminam, ao contrário, obscurecem a verdade e se valem da repetição como forma de lavagem
cerebral. Mas o obscurantismo pode ter outra vertente, quando alguém que nunca faz uma auto-crítica
das suas falhas e erros, sente-se no direito de expor os adversários, sem nenhum cuidado com os
princípios da ética jornalística. Também no período da ditadura, muitos torturadores escondiam
o próprio rosto com capuz: não permitiam se mostrar por inteiro, não se expunham ou revelavam
o verdadeiro eu, mas sentiam-se no direito de deixar a vítima literalmente nua e sem defesa.
E, assim como hoje, eram vários contra um. Além disso, as técnicas de bater ininterruptamente,
sem dar tempo para a pessoa respirar, são as mesmas do DOI-CODE.
Qualquer semelhança desses fatos com a realidade de certos meios de comunicação de Macaé
não é mera coincidência. É o caminho encontrado por alguns para traçarem suas batalhas políticas
e eleitorais, até que o adversário vire pó.
E já que estamos no período da Quaresma, que começa com a quarta-feira de cinzas, vamos lembrar
a frase-temática desse período: “Do pó vieste e ao pó voltarás”. Ninguém se livra dessa verdade, tanto
quem bate como quem apanha. Um dia, todo mundo voltará a ser pó: os torturadores e o torturados.
Só que quem decide a hora para tal evento não é nenhum político. Isso não compete à prepotência
humana.
Ivania Ribeiro
Professora, sindicalista e ex-vereadora

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